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Da pandemia ao pandemônio

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Três grandes forças regem o mundo: estupidez, ganância e medo". Warren Buffet, megainvestidor norte-americano

No filme O incrível Exército de Brancaleone, na Itália do século 11, o maltrapilho Brancaleone forma um exército de mortos de fome e parte em direção a terras a que julga ter direito. Percorrendo a Europa medieval em um pangaré, ele se depara com a peste negra. As imagens da Itália, a respeito das vítimas da pandemia do covid-19, são quase tão assustadoras quanto às do filme. O número de vítimas fatais no país já passa da casa dos 4 mil, superando inclusive a China com o maior número de vítimas. Só para constar: enquanto a China tem 1,4 bilhão de habitantes, a população italiana é de apenas 60 milhões de pessoas.

O contraste entre a China e a Itália revela, no mínimo, que o primeiro país se preparou melhor que o segundo para enfrentar a doença. O principal fator - além da rapidez com que os chineses procuram resolver o problema (exemplo, hospitais construídos em 11 dias) - foi a disciplina da população em respeitar a quarentena, facilitada pelo regime autoritário chinês. Na Itália, seja por razões culturais ou políticas, a quarentena não foi levada muito a sério, a não ser quando o número de vítimas começou a crescer em progressão geométrica.

A pergunta que passa na cabeça de todos é: o Brasil será outra Itália? Contra a falta de organização, só é possível contar com a ajuda de Deus. Mas, se lá na Itália que é a terra do Papa, aconteceram todas essas mortes, não vai adiantar apelar para a ajuda de Deus. É preciso um pouco mais do que isso. Num país de mais de 200 milhões de habitantes e com a desigualdade de renda que tem o Brasil, somando-se ainda a vasta extensão territorial, será tão ou mais difícil evitar o contágio do Covid-19.

O que mais preocupa é que a pandemia do novo vírus está se transformando num pandemônio, ou seja, numa grande confusão. Ninguém se entende. Bolsonaro deixou um vácuo de liderança ao menosprezar a gravidade da epidemia. Vários políticos aproveitam para preencher esse vazio, como o próprio presidente da Câmara e governadores do RJ e SP. O ministro da Saúde uma hora fala uma coisa, outra hora outra. Chega até a apelar para a matemática, ao dizer que a epidemia vai assumir a forma de uma exponencial, ou seja, vai crescer indefinidamente. Por esse raciocínio, a epidemia não vai terminar nunca!

Acompanhe os fatos: 1) Bolsonaro viaja para Miami para jantar com Trump e volta com a suspeita de ter contraído o vírus. O filho disse ter dado positivo, mas o teste deu negativo; 2) Bolsonaro participa das manifestações de rua contra o Congresso e STF, aperta a mão de correligionários, e diz que o coronavírus é "histeria"; 3) Rodrigo Maia atira contra o ministro da Economia (Paulo Guedes) por não ter apresentado ainda "medidas concretas"; 4) Guedes reage às críticas, anuncia algumas medidas e pede a decretação do "estado de calamidade pública" (que desobriga o governo de cumprir as metas fiscais este ano); 5) Bolsonaro tenta "virar o jogo" e resolve dar uma coletiva com todos os ministros usando máscaras.

Tarde demais. Na realidade, o teatro de máscaras de Bolsonaro serviu mais para "memes" nas redes sociais do que outra coisa. Tampouco evitou vários dias seguidos de "panelaços" em várias capitais. Pedidos de impeachment são protocolados na Câmara. O filho de Bolsonaro (Eduardo) arruma confusão com a China, 23 membros da comitiva que foi aos EUA contraíram o Covid-19 e suspeita-se que o presidente esteja infectado. Aplica-se aqui a famosa lei de Murphy, que diz que "tudo que puder dar errado, dará".

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